quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sem terra, sem ordem e sem critérios

Quando era criança, via nos telejornais que tal número de pessoas pessoas sem terra tinham sido assentadas em área de latifúndio, desapropriadas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) - órgão governamental responsável pelos assentamentos. Achava aquilo o máximo. Por que tanta terra parada, protegida pelas cercas por pessoas que nem precisavam delas, pensava. O tempo foi passado e o que seria maior movimento social que se tem notícia no Brasil tornou-se politizado. Passei a acompanhar outras notícias em que em alguns assentamentos, as terras era vendidas por pessoas que voltavam a fazer novas ocupações, em busca de mais terra. Claro, que nem todas agiam da mesma forma. Há locais, principalmente no Nordeste, em que comunidades de assentados prosperaram e se tornaram exemplos de produção agrícola. Mas em meio às notícias, palavras como grilagem de terras, invasões, saques a veículos de carga e até assassinatos passaram a ser comuns - sempre ligados ao Movimento dos Sem Terra, hoje Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Essa politização do MST, que me referi algumas linhas antes, passou a ser cada vez mais forte. Eles, em algum momento do passado, adotaram posições esquesdistas e quase se fundiam com o Partido dos Trabalhadores (PT). Algum tempo depois que o governo Lula teve início, ficou famosa a foto do presidente com aquele boné vermelho (vermelho, assim como o PT) na cabeça. Líderes do movimento, que com o passar do tempo foram se entranhando em órgãos do Governo (como o próprio Incra) ou que conseguiram se eleger para cargos em Brasília deram mais força e organização ao MST. Eis que, em meados de 1996, a TV Globo retrata o MST de forma romântica na novela "O Rei do Gado". Ao exaustivo som de "Admirável Gado Novo", de Zé Ramalho (Ê, ôô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz), mostrava a bela Patrícia Pilar como uma Sem-Terra e colocava a questão em pauta, mas de forma superficial. Para muitos, a novela foi a melhor coisa que poderia ter acontecido ao MST. O movimento passou a não esperar mais liberações para assentamentos e adotou outra postura - as invasões de áreas, como forma, segundo dizem, de "apressar" as coisas. Mais recentemente, o MST aparece em notícias de ataques a áreas produtivas, destruição de estufas de empresas que desenvolvem pesquisas para o campo. E por aí vai... A última coisa de que se fala do MST é que o que seria o maior movimento social já surgido no Brasil se transformou em um chupim de dinheiro público. Sem existir juridicamente (portanto, não podendo responder juridicamente por nada que faça), o MST também não pode receber verbas oficiais. Criou-se então as fontes de captação desses recursos em forma de ongs. É isso o que a revista Veja denunciou há duas semanas, o que pode desencadear uma CPI. Eles também estão em Limeira. "Forçaram" um assentamento e (pelo menos por enquanto) não vão mais ficar com o Horto Florestal. Estão em outra área próxima, mas em Limeira. Não quero, com esse artigo, mostrar-se "anti-MST", mas acho que ao longo de sua trajetória, o movimento perdeu sua essência, desvirtuou-se e já não é mais um movimento social. Infelizmente.
Assis Cavalcante

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